Há algo de novo na televisão brasileira. Trash, mas novo.
É uma mistura de "Saramandaia" com "Sítio do Pica-Pau Amarelo". Tem um pouco do realismo fantástico de Dias Gomes e dos personagens mitológicos que Monteiro Lobato levou para seus livros e foram parar na série nos anos 70. O resultado disto é "Caminhos do Coração", ou a novela dos mutantes, como é mais conhecida.
Quando estreiou, no segundo semestre do ano passado, poderia ser mais uma história de amor com uma clínica que "fabricava" mutantes como pano de fundo. O autor Thiago Santiago não imaginava que os seres geneticamente modificados iam fazer mais sucesso do que qualquer outra trama paralela. A audiência subiu e eles viraram o fio condutor da trama. E pior (ou melhor): se multiplicaram.
"Caminhos do Coração" tem uma menina que move objetos e explode coisas quando fica com raiva. Tem o jovem Aquiles, capaz de se regenerar após levar um tiro ou cair de um prédio. A irmã dele enxerga longe, longe, mais do que qualquer ser humano. No alto de uma montanha, vive a menininha loira que tem asas e adora voar. O estudante que lê a mente dos outros já fez disso um artifício para conquistar novas namoradas. Calma, estes eram apenas alguns dos mutantes do começo da novela... A categoria que mais cresceu foi a dos vampiros e lobisomens. Homens e mulheres com dentes grandes fazem lembrar os tempos da novela "Vamp". "Caminhos" vai além. Nos últimos capítulos, entraram na história a Felina, a Sereia que enfeitiça os homens com seu canto e o Minotauro que veste um chifre parecido com fantasia de carnaval. O guampudo é o único que destoa diante do festival de efeitos especiais que não devem em nada a séries como "Heroes". A Record comprou o mesmo equipamento para repetir na os efeitos na história brasileira.
O trash disso tudo é misturar os seres fantásticos com atores e cantores conhecidos do público. Preta Gil já correu de lobisomens por horas e horas. O marido da Fafá de Belém foi vítima dos dentuços e por pouco não mordeu a mulher. Tony Garrido teve parte da família transformada em mutante. Ítala Nandi vive a doutora Júlia, uma das responsáveis pelos projetos de mutação. Ela fez isso durante anos e os mutantes que não deram certo, os do mal, foram levados para prisões em uma ilha deserta. Claro que eles já escaparam.
A ilha se tornou um lugar onde tudo pode acontecer. Jornalistas, policiais, médicos e quem mais ousou chegar até lá, acabou morto ou perseguido pelos bichos. Fora os mutantes de todos os tipos, Thiago Santiago deu uma cartada ainda mais alta. Desde a semana passada, um dinossauro passeia pelas praias paradisíacas. E dele os mutantes tem medo. Trata-se de um perigoso velociraptor, também criado pela Dr. Júlia, que descobriu o código genético do predador e o reproduziu no local. Quer mais? Um sapo gigante com veneno letal na ponta da língua é um dos novos personagens previstos. É trash? É engraçado? Eu diria que é no mínimo diferente. E por isso merece atenção. Não para ver todo dia, para acompanhar como uma "Vale Tudo" da vida. Mas para passar de vez em quando, naquele zapping do fim de noite. Quem sabe você não se anima e acaba rindo um pouco. A Record anunciou que a história segue até o final do ano. Mais de 300 capítulos onde o único risco é gostar e querer ver mais um pouco.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
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