quinta-feira, 25 de junho de 2009

O OUTRO

Dizem que quem não levou chifre na vida ainda vai levar. Estou tranquilo porque já passei pela experiência. É muito triste ser o último a saber. Sabe quando os vizinhos comentam, os colegas sabem e a criatura nem desconfia? Crueldade demais. A dor da traição pode gerar revolta e sentimento de vingança. Não quero que aconteça nada disso por aqui. Por isso, venho a público confessar que tenho outro blog.
Ele nasceu nesta madrugada e ainda tem um endereço grande que deve ser reduzido nos próximos dias. Por enquanto, dá para acessar pelo www.canalrural.com.br. Ou pelo nome do blog aí embaixo.

Fora do Ar

Como eu escrevi no começo do post, sempre tem aqueles que comentam a história antes de os outros saberem. A Lilian Lima já veio perguntar se com a existência do novo blog o antigo continua. Boa pergunta. O certo é que sempre que ele for atualizado vocês saberão. E que eu não ficar discutindo as eliminações da Fazenda no outro. Então, nos vemos lá e aqui. Onde o tempo e a disposição de vocês permitirem. Um grande abraço

terça-feira, 23 de junho de 2009

PINGUINS NA SERRA



Foi inaugurado domingo em Gramado o primeiro pinguinário gaúcho. Fica lá no zoológico que tem apenas animais da fauna brasileira. Os "estranhos no ninho" vieram marcar a chegada do inverno na região mais fria do estado. A foto acima é meramente ilustrativa. Espero conhecer em breve os novos moradores do local e trarei fotos para o blog.

Já estive 3 vezes no zoo, duas a trabalho. Na última delas, mostrei o que acontece quando chega a noite e os bichinhos são preparados para enfrentar a madrugada. Segue o vídeo da matéria.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

MATÉRIA BOA É MATÉRIA QUE ENTRA



Um dia acompanhando uma visita do presidente Lula é sempre inesquecível. Não importa onde ele estiver. Pode ser em Conganhinhas, a 100 km de Londrina, onde esteve hoje, ou na Rússia e no Casaquistão, onde a amiga Angelica Coronel, da Tv Brasil, teve o privilégio de estar na semana passada. Sempre tem estresse, atrasos e uma corrida desenfreada por causa do nosso dead-line.

Já tive inúmeras experiências de coberturas com o presidente. Não só no Brasil, mas na Argentina, no Uruguai e também no Chile, na posse da presidente Michele Bachelé. Pois então, hoje, em Londrina, não foi diferente. Poderíamos ter feito tudo na calma, na tranquilidade, se o senhor presidente chegasse na hora marcada, às 15h. Não chegou. Lá pelas 16h10min os integrantes da comitiva começaram a subir ao palco do pavilhão do centro de exposição onde seria divulgado o Plano Safra. Resultado: a correria de sempre.

A editora do jornal, Greetchen Ihitz, me aconselhou a sair do pavilhão às 17h30min. A ideia era que eu fechasse a matéria para o primeiro bloco do Rural Notícias, que começaca às 19h. Não conseguimos. Fizemos de tudo, mas foi impossível. A edição feita no computador pelo cinegrafista Cristiano Mazoni foi rápida. Mais rápida do que poderia ser para quem estava pegando o programa pela primeira vez. Mas a reportagem só entrou no último bloco do programa e pior... sem a parte em que eu falava do presidente Lula, porque o tempo de geração - um espaço comprado da Embratel para mandar a matéria - chegou ao fim. Terminamos sem o Lula, depois de tudo. O presidente só aparece na matéria do Bom Dia Campo, que fechei com tranquilidade depois. Lula já me fez ficar 18 horas em comer nada lá no Chile por conta dos atrasos, das coletivas marcadas e desmarcadas. A função toda é boa só depois que acaba e a gente vê nos rostos dos colegas o mesmo ar de cansaço. Antes, somos todas pessoas aflitas, com um olho no relógio e conversando pelo celular com ar de desespero.

De toda a experiência que tenho com as coberturas presidenciais, a melhor lição que aprendi foi a de não adianta esperar, conseguir a entrevista exclusiva, a imagem que ninguém tem, se no final das contas ela não for ao ar. É que nem o programa Jogo Duro. Tem que conseguir o dinheiro mas não pode chegar tarde demais. Neste tipo de cobertura acontece a mesma coisa. Matéria boa é a matéria que vai para o ar. Como a que foi hoje. Sem o Lula, sim, mas entrou. Pior seria termos esperado até o final do discurso do presidente. Não teria dado tempo nem de fechar o texto. Até a próxima, presidente.

sábado, 20 de junho de 2009

O PERIGO DO OVO MOLE



Estudos recentes anunciaram o ovo como um dos alimentos mais completos, fonte de vitaminas e proteínas essenciais para a saúde. Agora, ele voltou às manchetes por causa de uma determinação da ANVISA, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Dentro de seis meses, todas as caixas dos ovos vendidos nos supermercados, devem ter as seguintes advertências: "O consumo deste alimento cru ou mal cozido pode causar danos à saúde"e "Manter os ovos preferencialmente refrigerados".

Toda esta preocupação é por causa da salmonela, uma bactéria presente no ovo que pode causar intoxicação alimentar quando o produto não é consumido de maneira correta. Tá criada a polêmica. Tem um bando de gente que adora ovo mole, que sonha com aquela gema amarelinha misturada com o arroz, que come ele na própria casca, aberta em cima, de colherinha, com uma pitada de sal... E então? O aviso está feito. Quero ver é mudar o hábito dos brasileiros. Só para não dizerem que comer ovo mole é coisa de terceiro mundo, experimentei uma comida assim lá em Paris, no ano passado. As fotos são do prato servido em um dos restaurantes próximos ao Trocadero, de onde se tem a melhor vista da Torre Eifel. É um macarrão a carbonara. E sobre a massa, o francês serviu um belo ovo totalmente cru. Eu não reclamei porque não saberia explicar ao garçom que aquilo me revirava um pouco o estômago. E também porque estava com muita fome. O jeito foi misturar o ovo mole na massa e mandar ver. Graças a Deus, não passei mal no metrô.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

CHEIRO DE TERRA MOLHADA



Há três semanas eu estava fechando a mala para viajar pro Acre. E quando penso na viagem, parece que ela aconteceu há uns dois, três meses. Qual o motivo para esta distância na memória? Vai ver é porque a gente vai todo dia para um lugar diferente e todos eles deixam marcas na nossa cabeça. O blog ajuda a ordenar tudo isso. Ajuda a mostrar quando foi aquilo, que lugar era esse... É um documento este troço. Por isso é tão importante para mim saber que tem gente lendo. E melhor ainda, que tem gente gostando do que lê.



Esta semana, fui até o interior de Maquiné conhecer a história de um agricultor que vive bem afastado dessa correria que afeta nosso pensamento, que desordena nossas ideias. Na propriedade do Seu Pedro, o único som que se ouve é o da natureza. Os passarinhos, a sanga, os cachorros que fazem o alerta de quem chega. E o cheiro de terra molhada... Esse parece entrar em nossos poros.



O motivo que me levou até lá não era nada agradável. O senhor de quase 60 anos, que herdou as terras do pai, pode perder tudo por causa de uma multa. Há dois anos, ele derrubou dois hectares para aumentar a lavoura e botou fogo em uma outra plantação. Resultado: multa de 22 mil reais. Ele teve que vender as vacas para pagar o advogado. E não adiantou. A multa foi reduzida. Mas daqui a 3 anos, o Seu Pedro vai ter que dar as terras para não ser preso. Imagine o desespero dele? Vai para onde? Vai fazer o quê? Saí de lá pensando que no século passado, o crime do Seu Pedro era considerado normal. Os imigrantes vieram, desmataram, ensinaram a desmatar, trouxeram o progresso. E quem vivia lá naquele fim de mundo e achava tudo isso normal foi atropelado pelos anos 2000. Não existe mais fim de mundo. A multa vai chegar em qualquer lugar. O paraíso do Seu Pedro está escondido até a chegada do próximo fiscal.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

CHÁ DE CADEIRA EM XAPURI

Não foi fácil conhecer a filha de Chico Mendes. Quando fui fazer a reportagem sobre o Instituto que leva o nome do líder dos seringueiros, em Xapuri, fomos recebidos por um monte de gente simpática. Teve o Orlando, o Jonas, a Alice, a Marcia. Eles mostraram a casa onde Chico foi morto, que permanece com tudo do jeito que era naquele final de dezembro de 88. Também mostraram o centro de memória, com as medalhas, prêmios, diplomas. Chico Mendes ganhou até a chave da cidade do Rio de Janeiro. E inúmeros condecorações internacionais. Bom, vimos tudo, gravamos tudo e não entrevistamos ninguém. Segundo os funcionários, só iria falar a Elenira, presidente de honra do Instituto. Estava tudo marcadao para as dez horas da manhã. Mas antes mesmo de sair de Rio Branco, a 180 quilômetros de distância, já sabia que ela nos atenderia às 11 horas. Ao chegar na cidade, novo horário: no iniciozinho da tarde. Por isso, depois de fazermos tudo o que tínhamos de fazer por ali, fomos almoçar para passar o tempo e esperar a chegada da moça. Elenira é secretária do meio ambiente de Xapuri, mas mora em Rio Branco. Ela vem duas, três vezes por semana, apenas. Duas e meia da tarde e nada. O pessoal ligou para ela e Elenira avisou que estava chegando na cidade. Três horas. E uma Pajero preta se aproxima. O Jonas se empolga: "É Elenira", disse. Não era. Era o marido dela. Veio, nos cumprimentou e falou que a esposa estava visitando a avó antes de dar a entrevista. Putz. Três e meia. Nós tínhamos pressa porque era o dia de voltar para casa. Arrumar as malas, fechar a conta no hotel, devolver o carro, ir pro aeroporto. E Elenira não chegava. Foi só às 15h30min que ela apareceu. Felizmente era uma graça de pessoa. Gordinha, simpática e a cara do Chico Mendes. Fizemos a gravação em frente a uma foto gigante do pai dela, no memorial. Só de ver os olhos de um e comparar com os do outro dava para dar certeza. Pai e filha eram cara de um e focinho do outro. O bom é que Elenira também herdou o gosto pela luta dos povos da floresta. Não foi desde criança, não. Só quando já era adulta, perto dos 20 anos, encontrou uma foto antiga com uma dedicatória de Chico atrás. Ele pedia que ela cuidasse da missão que não conseguiria terminar. A frase mudou a vida da jovem. Hoje, aos 24 anos, Elenira pensa em seguir carreira política. Desistiu de concorrer a prefeitura pelo PV por conselho dos líderes petistas do estado. Agora, aguarda as eleições do ano que vem. É provável que se candidate a deputada estadual. Carisma não lhe falta, muito menos simpatia, como eu já disse. Mas quem sabe um reloginho...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A MALDIÇÃO DAS CAXINGUBAS

O que Pelotas, Campinas e Xapuri tem em comum? Fácil, né? Não preciso nem dizer. A terra de Chico Mendes é conhecida como a cidade mais gay do Acre. O motivo vem de longe. Antes de o líder seringueiro ficar famoso, aquela era a capital das caxingubas. A frutinha verde que tem como nome científico ficus insipida Willdenow var. insípida é muito apreciada pelos veados, animais em abundância na selva amazônica. A caxinguba é também conhecida por guajinguva e lombrigueira. E sempre teve aos montes nos campos de Xapuri. Diz que tinha tanta caxinguba que os veados lambiam os beiços de tanto comer. Daí ficou a fama que ninguém mais conseguiu tirar. Os machões de Xapuri dizem que é tudo mentira e quem em um só bairro de Rio Branco, a capital do estado, tem mais homossexuais do que em toda Xapuri. Eu não vou entrar na discussão. Não vi ninguém suspeito por lá. Nem os animaizinhos. E nem as frutas.

terça-feira, 16 de junho de 2009

CUIDADO COM O GOGÓ DE SOLA

Ele é o terror daquela região lá do Acre. Um macaquinho pequeno, segundo os moradores, cor de ferrugem e tão traiçoeiro que pode matar. O famoso seu Nilson contou que o tal do Gogó de Sola pula na cabeça da gente quando se sente ameaçado e ataca nossas articulações com tanta força que a pessoa pode morrer na hora. O único jeito de se livrar do animal é a tiros. Só levando uma bala na cabeça o diabo larga da presa. O primo do Chico Mendes contou que estava recebendo dois atores famosos em casa quando um Gogó de Sola entrou pela janela. Foi um tendéu, um deus nos acuda. O jeito foi acabar com o problema ali mesmo, na frente das celebridades, que ficaram apavoradas. Será que eram Christiane Torloni e Victor Fasano, os ferrenhos defensores da Amazônia? Seu Nilson não revelou.

Além do Gogó de Sola, lembro de uma outra praga perigosa que ele nos mostrou na mata. É o bichinho da foto aí embaixo. Piolho de preguiça é como chamam ele. Olha o tamanho dos pelinhos dele. se a foto não mostra direito, imagina uns três dedos de comprimento. O cabeludo fica ali, quietinho na árvore, mas se, na hora de passar, você se encosta nele, deu pro cocos. Foi. Já era. Queimadura de segundo grau. O remédio, segundo os seringueiros, é o próprio bichinho. Tem que pegar o Piolho de Preguiça com uma folha grande e esfregá-lo sobre a área queimada. Consegue imaginar? Pois dizem eles que assim resolve. É quase que nem veneno de cobra, que acaba servindo também como antídoto. É... a floresta é cheia de coisinhas perigosas como estas. Mais um motivo para não mexer onde a gente não é chamado.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

POUSADAS, TRILHAS E CUPUAÇUS



Quer morar no meio do mato? Pelo menos por alguns dias, isso é possível lá em Xapuri. A Pousada Cachoeira fica no meio do seringal com o mesmo nome. Foi inaugurada há dois anos e recebeu mais de duas mil pessoas, a maioria estrangeiros.



O lugar é fantástico. Para receber 32 pessoas, chalés, cabanas e um belichário, algo assim, mais coletivo. O chalé pequeno custa 120 reais para o casal. A diária do chalé grande custa 180 reais. No belichário, cada pessoa paga 50 pila. Além de entrar no clima de viver na floresta, o visitante pode agendar passeios por trilhas e conhecer o método de extrativismo que o seu Nilson mostrou aqui nos posts anteriores.



Já imaginou acordar e dormir com os sons da Amazônia? A sensação deve ser incrível. Passei lá algumas horas, apenas, quando o grupo almoçou. E que almoço... Não tenho fotos porque cometi a besteira de não tirá-las. É que a fome era grande demais. Não perdemos tempo. Os pratos estavam deliciosos. E na sobremesa, pude experimentar o famoso creme de cupuaçu, uma fruta típica da região. Perguntaram com o que eu achava parecido. O creme se assemelha a um mousse de maracujá. Mas o gosto, no fundo, remeteu ao Danoninho. Nossa, foi como se eu tivesse falado a maior bobagem de todos os tempos. Ninguém gostou da comparação. Os acreanos ficaram ofendidos. Mas eu recomendo o cupuaçu. Embora não tenha idéia de onde possa encontrá-lo por aqui.

sábado, 13 de junho de 2009

BORRACHA EM UM MINUTO



Alô você! Hoje eu vou mostrar uma coisa que poucos dos meus leitores conhecem. Se alguém já tinha visto, por favor, me avise. É mais uma do seu Nilson, o primo do Chico Mendes, nosso guia no Seringal Cachoeira, em Xapuri, Acre. Ele vai mostrar a atividade mais comum na região, mas que para nós, moradores do sul do país, é algo bem interessante. Sabe como se faz para extrair o latex da seringueira e transformá-lo em borracha? Seu Nilson explica. Tudo isso bem rapidinho, na frente da nossa câmera. Pela primeira vez neste blog! Olha ae!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

SORO ANTIOFÍDICO NATURAL



Se veio por aqui, volte por outro lugar. O recado dado pelo Seu Nilson parecia sério. Segundo ele, as serpentes ficam aguardando o grupo que se espalha pela floresta e se o povo vem pelo mesmo caminho, é certo que vai ser atacado quando retornar. Em nosso passeio pela mata, percorremos sempre trilhas diferentes. Nem ele e nem nós queríamos correr o risco de ver uma cobra por perto. Em um grupo grande, como o nosso era - mais ou menos umas vinte pessoas-, a serpente esperaria até o fim para atacar o último. Deus me livre! Mas, e se acontecesse? No post anterior eu falei que o remédio podia estar bem ao lado. A revelação do seringueiro nos causou surpresa. Açaí, segundo ele, é o melhor remédio para picada de cobra. Não a fruta, mas a folha da árvore do açaí. Ninguém melhor do que o próprio seu Nilson para explicar...



Na última foto, uma brincadeira. Roubei o capacete de mateiro do Seu Nilson. E ele, bem empolgado, continuou conversando. Depois devolvi, claro.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

NO CORAÇÃO DA FLORESTA



O que esconde a maior floresta tropical do mundo? Quais os segredos guardados lá nos confins da Amazônia? Se é impossível saber tudo isso, o cara aí embaixo conseguiu provar que em uma hora a gente pode descobrir muita coisa. Quem é ele? Nilson Mendes. O acreano cresceu na mata. É um extrativista, como gostam de ser chamados hoje os seringueiros do passado. Gente que tira tudo o que pode da floresta, mas do tal modo sustentável, aquele que, segundo os especialistas, agride o mínimo possível a natureza.



Seu Nilson também é conhecido como primo de Chico Mendes, o seringueiro morto no final da década de 80 por fazendeiros, porque defendia os interesses do povo da floresta. Hoje, ele é uma espécie de guia. Quem chega no Seringal Cachoeira, em Xapuri, é recebido com um sorriso no rosto e muita coisa pra contar. Seu Nilson é meio surdo, usa aqueles aparelhos auditivos. Por isso a gente precisa falar um pouco mais alto para que ele possa escutar. Pegamos uma trilha na mata e ele vai explicando o que é isso, o que é aquilo. Tem erva pra tudo, garante ele. E tem que ter cabeça boa para guardar tanta coisa.



Amanhã vou postar um vídeo onde o Seu Nilson explica como a gente pode se proteger do ataque de cobras na floresta. Se vamos por uma trilha, nem pensar em voltar pela mesma. A cobra vai estar esperando. E se ela picar, o que fazer? O remédio pode estar ali mesmo, ao alcance da mãe. O Instituto Butantã que se cuide!

terça-feira, 9 de junho de 2009

O PAU-DE-ARARA ACREANO



Você já viu um pau-de-arara? Pelo menos sabe o que é um? O dicionário diz que o termo é originário do costume de se amarrar aves, para a venda, numa vara, onde as mesmas ficam penduradas para o transporte. Por causa disso é que ele ganhou outras duas analogias. A primeira é um instrumento de tortura, largamente usado no período da ditadura militar. O outro eu acredito que seja o das fotos deste post.



O transporte irregular de pessoas chamado de pau-de-arara é mais comum no nordeste do país. Mas tem muito no norte, também, como eu pude constatar. As fotos foram tiradas na semana passada, quinta-feira, quando eu e o cinegrafista Cristiano Mazoni terminávamos o trabalho na cidadezinha de Xapuri, no oeste do Acre.



Antes de sair da cidade, parei no posto de combustíveis para abastecer. Foi uma demora sem tamanho até que o frentista nos atendesse. Muitas pessoas estavam pegando gasolina em galões, sabe-se Deus para quê. E tinha também o tal do pau-de-arara. Você não consegue ver pelas fotos, mas tinha de tudo. Não só cachorro, mas gato, galinha e bola de futebol.



Famílias inteiras amontoadas na carroceria do caminhão e um bocado de gente em pé. Um transporte tão irregular quanto perigoso. Como fiquei tirando as fotos para registrar a situação, não tive tempo para tentar descobrir de onde vinham e para onde iam. O caminhão seguiu, daquele jeito mesmo. Polícia? Não vi nenhuma pelo caminho. Também, não poderia cobrar nada da polícia na cidade onde Chico Mendes foi morto a tiros, na porta de casa, com dois seguranças na cozinha jogando dominó. Em breve eu conto como foi conhecer Elenira, a filha do seringueiro e Seu Nilton, o homem que vai nos apresentar o coração da floresta.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A NOITE NA RESERVA CAZUMBÁ-IRACEMA

Se uma imagem vale mais do que mil, eu não precisaria de nenhuma palavra neste post para relembrar o que escrevi ontem. Mas segue abaixo o vídeo que mostra o que contei. A viagem que começou de dia e invadiu a noite na Amazônia...



Vamos para a parte 2 desta história. Uma hora de caminhada na floresta de noite e com chuva. Já falei aqui, mas tem gente que não acredita. Como não tenho fotos para provar, só vendo a matéria que vai ao ar nesta terça, no Rural Notícias, às 19h. Não precisa mais do que duas frases para eu contar e você ver a situação que a gente enfrentou. É bom lembrar que nada disto foi planejado. O pessoal do governo do estado do Acre, que organizou a aventura, esperava que a gente chegasse na Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema no final da tarde. Que pena que não foi!



A sede da reserva tem um motor que fica ligado até tarde e produz energia. Por isso, após o breu que parecia eterno, encontramos luz. Era o fim do túnel.
Para aliviar o cansaço, o povo nos esperava com um banquete. É sério. Não lembro muito bem o cardápio, mas comemos feito animais. Imundos, nos deparamos com um banheiro sem eletricidade. Estava sujo, claro. Tão ou mais sujo que a gente. A água fria sobre o lombo me fez quase gritar de frio. Uma ensaboadinha ali, outra aqui. E cadê a toalha? As toalhas que seriam enviadas para a gente estavam com uma das assessoras, em um barco que ainda não tinha chegado. O jeito foi me secar com a camiseta que estava usando antes. Não secou muito direito, mas a sensação de banho tomado é única, sempre e em qualquer lugar. Até nos confins acreanos.



O último barco chegou quando meus olhos mal paravam abertos. Aquele monte de gente circulava pela casa que tinha 3 quartos e uma imensa varanda. E ninguém dizia onde a gente iria dormir. O jeito foi ir se encostando. Duas camas em cada quarto e colchões pelo chão. Na noite anterior, eu tinha dormido três horas por causa da viagem. Chegamos em Rio Branco às duas da manhã. E naquele momento, só precisava de um canto para desabar. Me apossei de um cama no canto do quarto enquanto os outros encaixavam os colchões nos espaços restantes. E na sala? Eu diria que pelo menos umas dez redes foram armadas. E lá fomos nós: assessores, jornalistas, barqueiros, povo da floresta, para uma longa noite de sono.

E bota longa nisso. Tinha barulho o tempo inteiro. A casa não tinha teto e os ratos andavam de um lado para outro sem cerimônia. A menina da Record disse que viu um passando rente ao seu colchão. O Adriano, de Goiânia, sofreu com um bicho que dava coices na parede do lado de fora. Era um jumento que virava o lixo, disseram no outro dia. Nunca saberemos se era verdade. Minha briga foi com os mosquitos. Eles simplesmente ignoraram os repelentes. O jeito foi puxar as mangas do moletom até o fim dos dedos e cobrir a cabeça com o capuz, deixando só o nariz de fora. Mesmo assim, ele foi alvo dos malditos. O zzzzzzz durou a noite toda, junto com os roncos, risadas e os sons de quem não conseguia esconder a flatulência. Durma-se com uns barulhos desses!



A foto é do povo feliz no dia seguinte, finalmente conhecendo a Reserva Extrativista. Mesmo com muito sono!

domingo, 7 de junho de 2009

A SAGA AMAZÔNICA



O primeiro dia no Acre também foi o mais cansativo. Houve uma mudança na programação e o que era previsto para terça aconteceu na segunda-feira mesmo. Lá fomos nós conhecer a reserva extrativista Cazumbá Iracema. Uma visita, no mínimo, inesquecível.



A reserva fica no município de Sena Madureira, distante 150 km de Rio Branco. Mas para chegar lá, só mesmo de barco. Ou na tal da voadeira, a lancha que anda um pouco mais rápido que com os remos. Uma sucessão de motivos fizeram com que a viagem se tornasse perigosa e que por muitos momentos tivéssemos a sensação de que algo ruim poderia acontecer. Uma ponte interrompida que não nos deixou sair de um lugar mais próximo, o rio acima do nível normal, cheio de tocos e toras de lenha e o pior de tudo: a chegada da noite. Depois da saída, em Sena Madureira, foram três longas horas até chegarmos de novo em terra firme.

O barqueiro parecia mais nervoso do que nós. Ele estava preocupado com os outros barcos, mais lentos, que levavam o restante do grupo e estavam atrás da gente. E por isso ia mais devagar, para ver se os outros se aproximavam. E nada.



A noite chegou, a lua apareceu no céu e o perigo do que descia rio abaixo pelos igarapés era cada vez maior. De vez em quando chovia um pouco. Era uma garoa fina, daquelas chatas, só para irritar mesmo. E a gente apertado na lancha. Eu estava com o colete do Canal Rural, cheio de coisas, com uma mochila, com uma capa de chuva e com o colete salva-vidas em cima. Mal podia me mexer. A todo momento parávamos para que o barqueiro retirasse galhos que se prendiam na hélice. Também paramos uma hora para abastecer a lancha de gasolina. Foi um silêncio longo. Podíamos ouvir o barulho da água, o som de bichos estranhos. A floresta e o rio se manifestavam. Ninguém tinha vontade de falar mas todos pensavam a mesma coisa. Quando isso vai acabar?



Três horas se passaram até o barqueiro dizer que estávamos chegando. A lancha encostou na margem e só víamos a luz de uma lanterna ao longe. Estávamos na beira de um barranco. Um barranco coberto de barro, onde quando não se atola, se resvala. Fomos desembarcando, quase sem enxergar nada. Eu logo atolei. Uma, duas, três vezes. As botas de borracha nunca foram tão necessárias. Estávamos com elas, claro. Mas bastou um tropeço para que eu desabasse no chão. O tripé da câmera foi junto. Senti as mãos afundarem até o cotovelo. O relógio se encheu de barro. Risos ao longe. E não era só por minha causa. Os outros colegas faziam o mesmo. Tombos e mais tombos. A foto abaixo mostra o barranco de dia. Acredite, de noite, ele parece uma montanha. E parece não ter fim.



Quando chegamos no alto, chovia mais forte. A escuridão era total. Floresta. Noite. Chuva. Tombos. E uma hora de caminhada em uma trilha entre as árvores. Os tombos já não causavam dor. A sujeira já não preocupava. Tudo o que a gente queria é que aquilo terminasse.

sábado, 6 de junho de 2009

sexta-feira, 5 de junho de 2009

AMAZÔNIA PARA SEMPRE



Cadê a Christiane Torloni? Onde está o Victor Fasano? Eu sei que eles já entregaram para o Lula um abaixo-assinado com um milhão de assinaturas em defesa da Amazônia. Mas será que não vai ter uma segunda edição? Será que não precisa mais alguns nomezinhos? Quero colocar o meu. E quero compartilhar com vocês as emoções e as aventuras vividas durante esta semana aqui no Acre. Uma longa semana, é verdade. Só que o cansaço se iguala às descobertas. Devo chegar em Porto Alegre na tarde de sábado depois de uma longa madrugada atravessando o país. Tem fotos, tem vídeos bem legais e tem coisas quem parecem saídas de filmes, como andar em uma lanchinha por um rio acima do nível normal, cheio de entulhos descendo. E de noite. E chegar na margem dele, depois de 3 horas pelas águas e descobrir que tem mais uma hora de caminhada. No meio da floresta. E de noite. Com os pés e as mãos atolados, me enchi de barro até o cotovelo. Mas calma, isso eu conto direitinho a partir deste fim-de-semana.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

POR CAUSA DO TEMPO




Já falei milhares de vezes aqui o quanto gosto do frio. Domingo o dia estava perfeito em Porto Alegre. 12 graus nos termômetros às duas da tarde. Imagina como estava na madrugada... E o vento? Batendo na janela lá de casa feito o minuano em Santa Maria. As nuvens escuras passando pelo Morro Santa Teresa e enchendo a minha janela de inverno. Uma pré-estreia antes do lançamento oficial daqui a poucos dias. E na previsão, neve para a serra nos dias seguintes.

Penso muito em tudo isso enquanto o sol castiga os moradores e visitantes do Acre. 36graus todos os dias. 36 abafados graus. E paro por aqui porque a sensação causada por este calor é tão ruim que nao merece ser descrita. Nem sentida. Por isso, procuro pensar que "calor é psicológico" e que o friozinho segue batendo na janela lá de casa, me esperando com um creme de ervilhas recém saído da panela de pressão, com um edredon jogado no sofá para ver Damages, com a pantufa do Taz livre de chulé e o livro verde do Dan Brown aberto em uma página qualquer.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

MEMÓRIAS DO FUTURO



É estranho escrever sobre o que eu não vivi. Estranho, mas interessante. Esta quarta-feira deve ter sido bastante cansativa. Das cinco da manhã até quase meia-noite, uma série de atividades está programada pelo grupo que acompanhada o Consulado da Alemanha em visita ao Acre. Eles partem perto da meia-noite para o aeroporto e depois, rumo para suas casas. Eu tenho mais dois dias ainda. Uma matéria de pecuária e outra sobre a Fundação Chico Mendes. Vamos alugar um carro e partir para Xapuri bem cedinho. De Rio Branco até lá são 180 quilômetros. Mas não imaginem esta distância em estradas normais. Eu já conto umas quatro horas, pelo menos. A filha do Chico Mendes vai estar nos esperando na fundação. Espero fazer uns videozinhos para mostrar aqui no blog. Se bem que o povo não gosta de comentar os vídeos. Achei que aquele do Magal ia bombar e ninguém comentou. Nada. Mesmo assim farei os vídeos a pedido da Lilian Lima, minha queridíssima colega, que merece ver minhas observações de viagem no exato momento em que elas acontecem. Uma boa quinta-feira a todos.

terça-feira, 2 de junho de 2009

MUITO LONGE DAQUI



Essa foi a foto que o Seu Google mostrou sobre uma voadora. Nesta terça-feira, segundo dia de junho de 2009, eu devo ter passado quase três horas dentro de uma lanchinha como esta pelos rios da Amazônia. O roteiro da nossa viagem pelo Acre prevê a visita a uma comunidade bem distante no meio da floresta, onde vivem os seringueiros. Para chegar lá, só passando horas e horas na voadora. Os rios são as únicas estradas na região. Espero que a viagem tenha sido tranquila. A noite de terça para quarta vai ser nesta mesma comunidade afastada. Sem celular. Sem computador. Sem energia elétrica. Pensem em mim, chorem mim. Mas não liguem porque eu não tenho como atender. Até amanhã!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

DE GALVEZ A CHICO MENDES



Eu nem vi quando esta minissérie passou na tv. Amazônia. Foi há uns 3 anos eu acho. Antes de Maysa e Queridos Amigos. Isso mesmo! Nunca pensei em ir para o Acre. Talvez, como disse o Anderson Vargas, porque ninguém planeja ir para o Acre. A não ser que já tenha estado lá antes e deixado alguma coisa para buscar. Vai fazer o quê naquele fim de mundo? Só mesmo a trabalho para enfrentar as adversidades do estado. E elas devem ser muitas. Imagino estradas ruins - como as do Piauí, Maranhão e Roraima, onde eu já estive. Imagino um calor insuportável. Em Roraima, quando desci no aeroporto, era difícil acreditar que existisse um ar tão abafado, um bafo tão quente. Depois, a gente acostuma. Estou indo a trabalho para fazer umas reportagens sobre a cooperação da Alemanha na proteção das florestas tropicais, a pecuária no Acre e a Fundação Chico Mendes. E só. Tomara que o Acre me surpreenda e eu só traga histórias boas de lá.