quinta-feira, 18 de junho de 2009

CHÁ DE CADEIRA EM XAPURI

Não foi fácil conhecer a filha de Chico Mendes. Quando fui fazer a reportagem sobre o Instituto que leva o nome do líder dos seringueiros, em Xapuri, fomos recebidos por um monte de gente simpática. Teve o Orlando, o Jonas, a Alice, a Marcia. Eles mostraram a casa onde Chico foi morto, que permanece com tudo do jeito que era naquele final de dezembro de 88. Também mostraram o centro de memória, com as medalhas, prêmios, diplomas. Chico Mendes ganhou até a chave da cidade do Rio de Janeiro. E inúmeros condecorações internacionais. Bom, vimos tudo, gravamos tudo e não entrevistamos ninguém. Segundo os funcionários, só iria falar a Elenira, presidente de honra do Instituto. Estava tudo marcadao para as dez horas da manhã. Mas antes mesmo de sair de Rio Branco, a 180 quilômetros de distância, já sabia que ela nos atenderia às 11 horas. Ao chegar na cidade, novo horário: no iniciozinho da tarde. Por isso, depois de fazermos tudo o que tínhamos de fazer por ali, fomos almoçar para passar o tempo e esperar a chegada da moça. Elenira é secretária do meio ambiente de Xapuri, mas mora em Rio Branco. Ela vem duas, três vezes por semana, apenas. Duas e meia da tarde e nada. O pessoal ligou para ela e Elenira avisou que estava chegando na cidade. Três horas. E uma Pajero preta se aproxima. O Jonas se empolga: "É Elenira", disse. Não era. Era o marido dela. Veio, nos cumprimentou e falou que a esposa estava visitando a avó antes de dar a entrevista. Putz. Três e meia. Nós tínhamos pressa porque era o dia de voltar para casa. Arrumar as malas, fechar a conta no hotel, devolver o carro, ir pro aeroporto. E Elenira não chegava. Foi só às 15h30min que ela apareceu. Felizmente era uma graça de pessoa. Gordinha, simpática e a cara do Chico Mendes. Fizemos a gravação em frente a uma foto gigante do pai dela, no memorial. Só de ver os olhos de um e comparar com os do outro dava para dar certeza. Pai e filha eram cara de um e focinho do outro. O bom é que Elenira também herdou o gosto pela luta dos povos da floresta. Não foi desde criança, não. Só quando já era adulta, perto dos 20 anos, encontrou uma foto antiga com uma dedicatória de Chico atrás. Ele pedia que ela cuidasse da missão que não conseguiria terminar. A frase mudou a vida da jovem. Hoje, aos 24 anos, Elenira pensa em seguir carreira política. Desistiu de concorrer a prefeitura pelo PV por conselho dos líderes petistas do estado. Agora, aguarda as eleições do ano que vem. É provável que se candidate a deputada estadual. Carisma não lhe falta, muito menos simpatia, como eu já disse. Mas quem sabe um reloginho...

Um comentário:

Amanda Lins disse...

Aí, fiquei olhando pra essa foto do Mendes e pensei: "ratinho".

E sim, eu não entendo fontes que se atrasam 5h30 min pra dar uma entrevista.

Mas essas tuas aventuras na terra da seringa não acaba nunca?