domingo, 4 de maio de 2008

O MONSTRO DA ÁUSTRIA

Você lembra o que estava fazendo no dia 28 de agosto de 1984? Não? Nem eu. Mas lembro o que fazia 3 dias antes. Em 25 de agosto, nevou em quase todo o Rio Grande do Sul. Era dia do soldado e eu não fui na aula. Nem sei se teve aula. Viajei de Pinhal Grande para Santa Maria, de ônibus, com minha tia Magdalena. Pelo caminho, íamos vendo as casas cobertas de branco, as crianças fazendo bonecos de neve... Na serra de Santa Maria, o cenário lembrava a estação de esqui que até hoje eu não conheço. Eu tinha 9 anos, estava na quarta série, tinha boas notas, gostava de ler e estudava feito louco. Três dias depois da única neve que vi até hoje, Josef Fritzl, um técnico em eletrônica austríaco, prendia a filha de 18 anos no porão de casa. E ela só iria sair de lá em abril de 2008.



O caso ganhou repercussão mundial e está em todos os jornais. A casa de Josef, em Amstetten, cidade de 16 mil moradores, distante 130 quilômetros de Viena, é chamada de casa dos horrores. No porão de 60 metros quadrados, Josef manteve Elisabeth presa e teve sete filhos com ela. Pelo menos 3 deles, nunca saíram do porão, nunca viram a luz do sol. E como o local tem menos de um metro e setenta de altura, cresceram curvados.



24 anos de prisão. Do dia em que eu vi a neve até hoje. Tempo demais. Uma vida inteira para muita gente. O que fazer com Josef? Como punir um monstro como ele? Existe castigo para este homem que chega agora aos 73 anos? Não sei. Nada vai reparar o que ele fez. Nada vai devolver o tempo e as coisas que a filha e os netos (filhos) dele deixaram de viver. Para calcular isso, eu lembro daquele dia 25 de agosto de 1984. Lembro da neve, da minha tia que morreu 3 anos depois, de tudo o que eu vi e vivi até agora. Quanto vale tudo isso? O que poderia valer essa vida roubada?

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