segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
BATEU O MEDO
Temo virar um semi-analfabeto a partir de primeiro de janeiro. Eu, que gosto tanto de escrever e aprecio tanto as palavras bem escritas, estarei cometendo erros primários. De um dia para o outro, da noite para o dia, palavras que fizeram parte da minha vida inteira passarão a ser erradas. Cada vez que eu for escrevê-las, muitas vezes sem saber, estarei fazendo o mesmo que aqueles que escrevem borracha com x ou mexer com ch. Absurdo!
O sentimento que tenho talvez seja o mesmo de quem, no século passado, escrevia Pharmácia e teve que trocar o PH pelo F. Um ultraje! Um roubo! Vão me roubar o direito de escrever certo. Vão me deixar semi-analfabeto.
Semana passada eu vi na vitrine de uma livraria a nova gramática, com tudo sobre a reforma ortográfica. Me deu medo. Ainda sinto medo daquele livro. Será preciso recorrer a ele para não cometer erros banais a partir de 2009? Serei apontado na redação como aquele que ainda escreve com o acento da vovó uma palavra que agora passeia livre e faceira pelos dicionários sem nenhum acento?
Como o povo reaprende a escrever? Como as pessoas que não estão na escola vão escrever certo? Vão ensinar no Jornal Nacional? A Zero Hora vai fazer um caderno especial? Como não iremos nos transformar me burros por não saber escrever as palavras de maneira certa?
É assim que me sinto agora: com sindrome do pânico da reforma ortográfica. E com vontade de escrever as últimas tremas, os últimos agudos em ditongos abertos, os últimos hífens antes de "s" e "r".
Há 37 anos a língua portuguesa não tinha uma mudança no modo de escrever as palavras. E a culpa de quem é? Do Lula? Também. O acordo foi firmado por Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor Leste.
Na prática, segundo um resumo do resumo do resumido que eu encontrei na internet, k, y, z passam a fazer parte do alfabeto oficialmente, sendo, portanto, agora, 26 letras. O bom e velho trema subiu de vez no telhado e desaparece das palavras grafadas em português, passando a ser usado apenas em palavras estrangeiras. O acento agudo desaparece dos ditongos abertos, ex. ideia, prosopopeia. O acento circunflexo desaparece em palavras com o duplo o e o duplo e, ex. voo, creem, leem. Desaparece o acento diferencial (agudo ou circunflexo) usado para diferenciar palavras de mesma grafia, ex. para, pelo, polo. O Hífen desaparece quando a segunda palavra começar com s ou com r, quando então as consoantes deverão ser dobradas, ex. antissemita, antirreligioso. Exceção: quando os prefixos terminarem com r o hífen deverá ser mantido.
Entendeu? Então vamos todos comprar a gramática e reaprender o beabá. Péssima ideia.
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3 comentários:
meu deus... agora deu medo!
eu não sabia que teria tantas modificações... até nos acentos agudos!!!! puts!!!
Já compra uma para mim também... e por favor, traz junto um dicionário! Tks.
P.S.: Temos o resto de dezembro para estudar, né?
hahhahha tu fez uma mega explicação, eu não tinha visto... bem vindo ao clube do pânico então!!! MEDAA!!!
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