DATENA NÃO ESQUECE

Fim de tarde em São Paulo. Engarrafamento monstro na Avenida Tiradentes. O que seria pior do que perder os sentidos dirigindo um carro no meio deste trânsito? Que tal acordar sendo visto por milhões de pessoas?

Quando liguei a TV, as imagens ao vivo mostravam o cara com a cabeça para trás, boca aberta e o pescoço deitado sobre o banco do motorista. Está morto? - perguntava o apresentador Datena. Por favor, recupere os sentidos, gritava ele. Uma imagem aérea mostrava o carro parado no meio do trânsito. Outra, na rua, estava em frente ao carro. Um desmaio, um cochilo, uma morte... transmitidos ao vivo. Satena diz que a imagem é a mais chocante que ele já viu na vida, que jamais vai tirar da memória o que está vendo naquele momento. Ele pede que o motorista recobre os sentidos como se tivesse o poder de ser ouvido por ele. E não é que o cara, dentro do carro, começa a se mexer? Ele abre os olhos, olha ao redor e não entende o que está acontecendo. Câmera, luz, tudo na frente dele. Aos berros, Datena pede que todos acompanhem aquele momento. O cara aparenta estar bem, recobrou os sentidos e nem parece assustado com o que está acontecendo. Ele se abaixa, como se procurasse alguma no carro e... acende um cigarro. Isso mesmo, prezado leitor. Ele acende um cigarro ali, ao vivo, diante do catatônico Datena e de um monte de gente que o assiste em casa. Não, não faça isso, pede Datena. Apaga esse cigarro, isso faz mal..., fala como se pudesse ser ouvido. Um policial conversa com o motorista, pergunta se ele está bem. Enquanto o cigarro é queimado, apresentador chama a próxima notícia. Eta Nóis!