quarta-feira, 6 de maio de 2009
UM PUNHADO DE GOTAS
Juro que eu queria postar aqui um vídeo mostrando uma daquelas chuvas de lavar a alma. Viajei para o Uruguai com a máquina pronta para isso. Lavar a alma com chuva é tudo o que os trabalhadores rurais uruguaios mais desejam ultimamente, assim como os do sul e noroeste gaúcho. Mas nada. No caminho para cá veio isso aí que está no vidro da frente do carro: um punhado de gotas. Nada mais que isso.
Em Rivera, choveu menos de um milimetro. E não garoava há mais de um mês. O povo da fronteira está acostumando os olhos com o marrom poeirento que cobre os campos. Mas não se acostuma com os efeitos desta seca toda. Visitamos a propriedade da Dona Célia, uma uruguaia que fala pelos cotovelos. Ela e o marido têm vacas de leite. Sem água nos açudes e sem pasto no potreiro, os bichos reduziram quase pela metade a produção. Os donos tiveram que tomar um decisão difícil, no meio da crise. Tiveram que dizer aos clientes que não poderiam mais atendê-los porque não tem leite suficiente para todos.
No final do dia, uma imagem que não me sai da cabeça. Seu Milton levando os bois pela estrada atrás de algum vizinho que tenha água. Nos campos dele, não existe mais. Nem na nascente do Rio Ibirapuitã, nem em lugar algum. Pessoas e bichos que passam sede deixam qualquer um impressionado. E a seca que levou a água embora, também acaba com o otimismo dos produtores. Perguntei para quando ele esperava uma chuva. Seu Milton foi rápido. "Não espero. Cansei de esperar. Não tenho mais esperança", disse. É o efeito de um punhado de gotas...
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Um comentário:
Nossa... vontade de sair correndo e dar um jeito nisso. A pergunta é: COMO? Triste.
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