domingo, 7 de junho de 2009

A SAGA AMAZÔNICA



O primeiro dia no Acre também foi o mais cansativo. Houve uma mudança na programação e o que era previsto para terça aconteceu na segunda-feira mesmo. Lá fomos nós conhecer a reserva extrativista Cazumbá Iracema. Uma visita, no mínimo, inesquecível.



A reserva fica no município de Sena Madureira, distante 150 km de Rio Branco. Mas para chegar lá, só mesmo de barco. Ou na tal da voadeira, a lancha que anda um pouco mais rápido que com os remos. Uma sucessão de motivos fizeram com que a viagem se tornasse perigosa e que por muitos momentos tivéssemos a sensação de que algo ruim poderia acontecer. Uma ponte interrompida que não nos deixou sair de um lugar mais próximo, o rio acima do nível normal, cheio de tocos e toras de lenha e o pior de tudo: a chegada da noite. Depois da saída, em Sena Madureira, foram três longas horas até chegarmos de novo em terra firme.

O barqueiro parecia mais nervoso do que nós. Ele estava preocupado com os outros barcos, mais lentos, que levavam o restante do grupo e estavam atrás da gente. E por isso ia mais devagar, para ver se os outros se aproximavam. E nada.



A noite chegou, a lua apareceu no céu e o perigo do que descia rio abaixo pelos igarapés era cada vez maior. De vez em quando chovia um pouco. Era uma garoa fina, daquelas chatas, só para irritar mesmo. E a gente apertado na lancha. Eu estava com o colete do Canal Rural, cheio de coisas, com uma mochila, com uma capa de chuva e com o colete salva-vidas em cima. Mal podia me mexer. A todo momento parávamos para que o barqueiro retirasse galhos que se prendiam na hélice. Também paramos uma hora para abastecer a lancha de gasolina. Foi um silêncio longo. Podíamos ouvir o barulho da água, o som de bichos estranhos. A floresta e o rio se manifestavam. Ninguém tinha vontade de falar mas todos pensavam a mesma coisa. Quando isso vai acabar?



Três horas se passaram até o barqueiro dizer que estávamos chegando. A lancha encostou na margem e só víamos a luz de uma lanterna ao longe. Estávamos na beira de um barranco. Um barranco coberto de barro, onde quando não se atola, se resvala. Fomos desembarcando, quase sem enxergar nada. Eu logo atolei. Uma, duas, três vezes. As botas de borracha nunca foram tão necessárias. Estávamos com elas, claro. Mas bastou um tropeço para que eu desabasse no chão. O tripé da câmera foi junto. Senti as mãos afundarem até o cotovelo. O relógio se encheu de barro. Risos ao longe. E não era só por minha causa. Os outros colegas faziam o mesmo. Tombos e mais tombos. A foto abaixo mostra o barranco de dia. Acredite, de noite, ele parece uma montanha. E parece não ter fim.



Quando chegamos no alto, chovia mais forte. A escuridão era total. Floresta. Noite. Chuva. Tombos. E uma hora de caminhada em uma trilha entre as árvores. Os tombos já não causavam dor. A sujeira já não preocupava. Tudo o que a gente queria é que aquilo terminasse.

5 comentários:

LU K. disse...

que experiência legal, cris!!!!!
eu sei q na hora a gente reclama, mas depois a gente vê que não esqueceremos de nada, nada!
beijos

Angelo disse...

Dalcin, experiências como ESSA são um sonho para mim. Eu adoraria ter feito uma matéria no meio da floresta, passando por tudo isso que tu passou. Meus parabéns pela empreitada, pela coragem, pelas imagens, momentos, e todas as memórias que tu acabaste incorporando ao teu HD. Isso tenho certeza que vai ficar para toda a vida.

Fala garoto, fala garota. disse...

Isso é o que se chama, no sentido mais literal das palavras, "PROGRAMA DE ÍNDIO".

Lilian Lima disse...

Que legal!!
Deve ter sido muito cansativo, mas ao mesmo tempo interessante conhecer um lugar como o Acre... só assim para ir pra lá... Tu deve ter muitas histórias para contar.

Dieta já disse...

Tô contando, Lili.
Tô contando...