Eu lembro como se fosse hoje. Santa Cruz do Sul, 1997. Não era minha primeira casa "fora de casa". Mas era a primeira em que eu ia precisar ter geladeira, fogão, mesa. Fui comprar na Loja da Afubra, que segundo os funcionários da TV era a que tinha os melhores preços da cidade. Saí de lá endividado por uns meses, mas com o apartamento cheio. Comprei tudo que encontrei de mais barato. A geladeira e o fogão por exemplo, eram os que tinham o preço mais baixo. O fogão não tinha nem acendedor automático. E eu estou com eles até hoje. Ou melhor, estava. A Steigleder 285 me deixou no final da tarde desta quarta-feira.
Não foi uma despedida fácil. Ela é pesada que só vendo. Viajou de Santa Cruz para Pelotas, de Pelotas para meu apartamento na Cidade Baixa e depois para este do Menino Deus. O leva pra lá e pra cá deixou algumas sequelas. Tem um negócio preto de plástico que fica na parte de baixo e se desprendeu em uma das mudanças. Passou a ficar encostado, como a própria geladeira foi ficando. Outro baque que ela sofreu foi quando meu sobrinho a esqueceu aberta por três dias. Estava quase fechada, na verdade. Mas criou gelo por tudo. A porta do congelador se quebrou e ele nunca mais foi o mesmo. Gelava a parte da frente e lá atrás, nada. É como se nem estivesse na geladeira.
Acredito que além de ser uma peça de museu com seus 12 anos de vida, a Steigleder anda gastando energia demais. Com tantas vantagens do governo incentivando a troca por aparelhos que gastam menos, estava mais do que na hora de eu criar coragem e dizer: chega. Não é fácil, como todo final de relacionamento. Trocar ela por uma nova e deixá-la onde? Quem iria levar? Será que iriam cuidar direito?
Há meses vim discutindo com o Muriel, meu colega da TV, para ele levá-la com ele. De graça, claro. Não vou cobrar nada até porque o Muriel vai ter que comprar um transformador de voltagem. A branquinha é 220V. Ela ficava ligada em uma tomada 220 que tenho na cozinha e que teve que ser trocada para a chegada da nova integrante da casa. O dia de despedida também foi de limpeza. Tirei um monte de coisa velha que estava dentro dela, fedendo até. Coitada! Foi tudo pro lixo. E degelei a querida pela última vez na vida. Sua substituta será uma frost free. Livre daqueles blocos de gelo fedorentos para sempre. Enquanto limpava, pude observar como as coisas hoje em dia são mais fáceis de quebrar. É tudo de plástico. Na geladeira nova, não tem uma prateleira de vidro, como nesta que foi embora. Nem uma gradezinha de metal. Tudo plástico, plástico e plástico.
Espero que o Mureil faça bom uso dela até que a branquinha acabe em um ferro velho de Viamão ou de Alvorada. Sua missão foi cumprida. E com louvor. 12 anos é um bom tempo. Que ela descanse em paz. A substituta chega nesta sexta-feira.
2 comentários:
Eu vivo este mesmo drama, só que a minha tem mais de 30 anos. Foi passando de vó para mãe, de mãe para filha. E meu pai ainda se deu ao trabalho de reformá-la todinha antes de me entregar. Tem aparência de nova. Me apeguei a bichinha. E também tive que mudar a tomada do ap aqui em Poa pra poder usá-la. Dizem que gasta menos, inclusive. Qual não foi a minha tristeza ao ligar para todos os briques da João Pessoa e descobrir que ninguém tem interesse por ela. Senhora, gostaria de vender uma geladeira. Vocês compram? Depende, diz a mulher do outro lado da linha, meio contrariada. Quanto tempo de uso? E eu, com sindrome de super sincera, ahhh, uns 30 anos ou mais. A resposta do outro lado da linha foi taxativa: nem pensar!! Ainda liguei para vários outros, na esperança de que algum abnegado que compra estas tralhas para revender a algum excentrico se interessasse por ela. Nada feito. Continua lá, na cozinha, a espera da minha mudança. E eu ainda a morrer de pena de me desfazer dela.
Que história! Eu fiquei com os olhos marejados! Hehehe!! Eu me apego a coisas materiais, mas, se ela estava velha... Enfim... Beijos
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