Poucas vezes me senti no meio do nada. Mas lembro que sempre gostei. Foi assim em uma estrada no interior da Argentina, que passava pela Sierra de La Ventana. O lugar era lindo e vazio. Parando o carro, não se ouvia mais nada. Nenhum motor, nem de longe. Nada de riacho ou sanguinha. Nem vento fazia barulho. Na verdade aquilo parecia cenário de filme. Sem nenhum ator. Uma paisagem retocada, pronta, só esperando a chegada dos protagonistas. Da Sierra de la Ventana eu trouxe uma foto. Deitado no meio da estrada. A região da patagônia argentina é cheia de lugares assim. Tem desertos, savanas... e lagos. Silenciosos lagos. Lagos que parecem mortos. Azuis e mortos no meio dos morros.
Os campos do Uruguai, logo na fronteira com o Brasil também são desse jeito. O carro segue pela estrada por horas e horas sem encontrar nenhum outro carro do outro lado. E pode ter certeza que nenhuma pessoa, por muito tempo. Lembro de um programa da Regina Casé em que ela parava no caminho e gritava, gritava, gritava... Nem vacas haviam para se espantar.
É por isso que até hoje quero muito conhecer a Antártida. O mundo branco, o vazio de cores, o silêncio completo. Todas as tentativas de ir para lá foram em vão. Mas não perco a esperança. Enquanto isso, vou encontrando desertos por aí afora. Como em São Desidério, no oeste da Bahia. Tirei estas fotos em uma lavoura de algodão, depois da colheita. Quando postei uma foto minha no orkut, nesse lugar, muita gente veio perguntar se era o Saara. Não era. Era a Bahia. Quem diria... Quase 32 mil hectares de lavouras. Uma imensidão de terra. As árvores que estavam mais perto pareciam formigas. O vento formava redemoinhos que a nossa equipe perseguiu por um bom tempo. Em vão. Não é fácil alcançar um furacão. Não é fácil dobrar o deserto, nem ouvir o som do silêncio. É como ir do nada para lugar nenhum. Você imagina o que não vê, alcança onde não chega, se enche do que não ouve. Estou louco pra encontrar de novo um lugar assim.
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