domingo, 22 de julho de 2007

IMPOSSÍVEL ABRIR O GUARDA-CHUVA PRO MUNDO


Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.

Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.

Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes,
das quatro estações,
dos quatro pontos cardeais.

Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.

Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa,
correnteza carregando os dias,
os cabelos.

(João Cabral de Mello Neto)

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