Eu sempre soube que corria o risco de perder a vista das árvores. A cada ano surge um novo prédio. De tempos em tempos percebo que um pedaço de verde foi-se embora. Mas a semana passada, eu percebi, por acaso, assim, passando sem muita demora pela janela, que eu vou perder a torre da Claro. E justo por causa de um prediozinho de nada que nunca dei atenção ao tamanho. Ele foi crescendo, crescendo e as escadas dos operários já estão quase no mesmo nível da torre. Em breve é a construção que vai estar sobre ela. Tsc tsc tsc... Incrível como a gente perde coisas simples e importante na vida da gente. Não poderei mais dizer bom dia para a torre se a torre não estiver aparecendo na minha janela. Tsc tsc tsc...
Me sinto em dias de despedida. Até quando verei um lado dela? Quando o último tijolo esconderá o último pedaço da estrutura branca que fica colorida de noite? Não é uma torre qualquer. Experimente chegar na cidade, no fim da tarde. É uma referência, lá no alto, mais importante que qualquer torre das televisões locais. E eu podia ver daqui, da minha janela, só esticando o pescoço quando estava na sala vendo tv. Já vi raios cruzarem ao lado dela. Já vi nuvens bem escuras cobrirem o topo. Já vi ela apagada e acesa, com as mais diferentes corres, como se tivesse um comportamento racional. Uma pintura da minha janela. Com os dias contados. Sentirei a falta dela. Não é uma torre qualquer.
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