segunda-feira, 8 de outubro de 2007

OS ÚLTIMOS DIAS DA TORRE

Não é uma torre qualquer. A torre que tenho na frente da minha janela me faz dizer bom dia quase todos os dias. Lá no alto do Morro Santa Tereza. Lembro de quando estava sendo construída e a gente nem sabia direito o que ia ser. Que espigão enorme, daquele tamanho... A torre da Claro. No meio de prédios, casas e algumas árvores -estas cada vez mais raras na minha janela- ela aparece imponente. E é mais ainda poderosa quando chega a noite. Logo que começou a funcionar este sistema de iluminação noturna, era só no que se falava. Um dia, a torre estava verde, no outro amarela, no seguinte lilás. Às vezes, ela ficava de várias cores em uma mesma noite ou até ao mesmo tempo. Ver as cores mudando, da janela da minha sala, só perdia em emoção para as noites de temporais, em que as nuvens surgem amedrontadoras detrás do morro.


Eu sempre soube que corria o risco de perder a vista das árvores. A cada ano surge um novo prédio. De tempos em tempos percebo que um pedaço de verde foi-se embora. Mas a semana passada, eu percebi, por acaso, assim, passando sem muita demora pela janela, que eu vou perder a torre da Claro. E justo por causa de um prediozinho de nada que nunca dei atenção ao tamanho. Ele foi crescendo, crescendo e as escadas dos operários já estão quase no mesmo nível da torre. Em breve é a construção que vai estar sobre ela. Tsc tsc tsc... Incrível como a gente perde coisas simples e importante na vida da gente. Não poderei mais dizer bom dia para a torre se a torre não estiver aparecendo na minha janela. Tsc tsc tsc...


Me sinto em dias de despedida. Até quando verei um lado dela? Quando o último tijolo esconderá o último pedaço da estrutura branca que fica colorida de noite? Não é uma torre qualquer. Experimente chegar na cidade, no fim da tarde. É uma referência, lá no alto, mais importante que qualquer torre das televisões locais. E eu podia ver daqui, da minha janela, só esticando o pescoço quando estava na sala vendo tv. Já vi raios cruzarem ao lado dela. Já vi nuvens bem escuras cobrirem o topo. Já vi ela apagada e acesa, com as mais diferentes corres, como se tivesse um comportamento racional. Uma pintura da minha janela. Com os dias contados. Sentirei a falta dela. Não é uma torre qualquer.

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