quarta-feira, 17 de outubro de 2007


Palavras são como a gente. Nascem, crescem e morrem. Não estou falando do dicionário, mas do uso informal, boca a boca ou até mesmo nos textos de tevê. Palavras ficam no dicionário e podem sair de moda. Eu não acho isso certo. Lembro da primeira vez que me pediram para evitar a palavra pobre e escrever carente. O argumento é que pobre seria pejorativo. Logo pobre que eu é tão curta e sonora. Não podia. E vieram muitos e muitos textos com pobres que viraram carentes. Algum tempo depois, carente ficou assim meio sem graça. Pode usar pobre, sim, me disseram. A moda estava de volta.



Outro exemplo: quem mora em vila, em bairro distante… Um colega chegou à RBS e trouxe a moda de que tudo era periferia. Até o que não era. Periferia da zona sul, periferia da zona norte, periferia do centro. Hoje, Regina Casé está condenando à morte a periferia. Já foi até o México e a Africa do Sul para mostrar as comunidades de lá. Isso depois de usar a palavra até em um programa com show musicais. Leiam o que eu escrevo: periferia está com os dias contados.
Palavras podem sair de moda como as gírias. Com a pressa do verão, com o tempo de uma novela, enquanto durar a fama de um artista. Bacana? Ninguém diz bacana hoje em dia. Massa? Deus me livre de usar essa expressão tão anos oitenta pra dizer que algo é legal. Legal. Legal ainda pode, não pode?


O medo da velhice está fazendo com que as palavras morram antes de muitos velhos. Velho, por sinal, não pode. Idoso é menos agressivo. Velho é caco, dizia uma tia minha com mais de sessenta anos. Os idosos, para mostrar que não tem nada a ver com isso, montaram grupos de convivência, onde dançam, cantam, conversam. Grupos de terceira idade. Mais uma mudança. Idoso já estava pegando mal, sabe. Tinha que ser terceira idade. Passou dos 55, 60 anos: terceira idade. Acho que não durou dez anos. Sim, terceira idade não pode mais. Ouvi esta semana a funcionária da companhia aérea chamar as grávidas, mulheres com crianças de colo e o povo da melhor idade. Melhor. É até discutível. E a terceira, vai pra onde agora? Virou politicamente incorreta.


Eu me considero um caçador das palavras perdidas. Ou um inconformado com a rapidez que elas vão embora. Pobre, velho, bacana. Elas não têm prazo de validade. Palavras são para sempre. Assim seja.

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