segunda-feira, 5 de novembro de 2007

SEU MILTON E O FILHO DA CARLA





O Seu Milton é um senhor gordo e de cabelos brancos. Pra dizer a verdade ele é bem gordo. Quando comprou um Del Rey Luxo, na década de 80, foi trabalhar todo feliz e quando saiu da empresa, o carro não estava mais lá. Depois deste roubo, ele foi assaltado cinco vezes, a mão armada. Em cada uma, agiu de forma diferente.

No primeiro assalto, três homens o cercaram, deram um chute na batata da perna e ele caiu. Fico pensando como seria ver o Seu Milton, com aquele peso, despencar no chão. Quanta crueldade... Levaram a carteira dele com dinheiro e todos os documentos.

No segundo assalto, Seu Milton já não carregava os documentos na carteira.

Na terceira vez, ele nem levava dinheiro, só perdeu os cartões de crédito.

Quando foi assaltado pela quarta vez, Seu Milton trazia sacolas de supermercado nas mãos e em uma delas carregava garrafas. As compras foram usadas como uma arma que ele bateu no bandido e conseguiu afugentá-lo. A reação deu coragem.

No quinto assalto, Seu Milton estava armado. O bandido o empurrou, pegou a carteira e quando estava fugindo ele gritou que ia atirar. Estava no lato de um viaduto em Porto Alegre, com muita gente circulando pelo local. Arriscado demais. O bandido fugiu. Seu Milton guardou a arma. Ele disse que depois disso, caminhava pelo centro da cidade quando um jovem esbarrou nele. Na hora. Sem pensar. Ele deu um soco tão grande que derrubou o cara no chão.

Seu Milton contou tudo isso enquanto fazia fisioterapia, na minha frente. A família da Carla, fisioterapeuta que nos acompanhava, foi vítima da violência no fim-de-semana. O marido dela levou o filho de sete anos ao cinema com três amiguinhos. Quando deixavam um deles em casa, um bandido entrou pela porta de trás do carro. Ficou sentado ao lado do filho da Carla. Armado, mandou que seguissem. Levou o carro, celular, documentos, pastas de trabalho e a mochila com tudo que o menino estava trazendo do colégio. Ele chorou muito na primeira noite. Agora, tem esperanças de que se o bandido vender a pasta para uma pessoa do bem, esta possa ver o nome dele, o endereço, o telefone da mãe e devolver pelo menos os lápis de cor e dos giz de cera. A mãe preferiu ser realista. Disse que é provável que o bandido entregue ou venda a pasta para uma pessoa do mal. O menino agora não dorme direito porque não sabe qual a punição da professora para quem tem os temas de casa roubados.

Carla contou que o filho, que nunca brincou com armas, agora quer que eles tenham uma em casa para se defender dos bandidos. Seu Milton foi orientado pelos amigos a pintar o cabelo. A cabeça branquinha estaria o tornando alvo mais fácil dos assaltantes. Hoje, as conversas na fisioterapia pesaram mais do que choque, gelo e exercícios. Tomara que amanhã tudo esteja mais tranquilo.

3 comentários:

Srtaana disse...

Fui assaltada em 2003. Estava esperando o meu namorado na frente do meu prédio ( eu moro na Assis Brasil ), quando um cara veio e tentou me arrancar a bolsa.
Comecei a gritar e a brigar com o ladrão. Tá louca, mas o cara me arrastou pela bolsa no meio da avenida. Ele só levou o celular, e o pobre gastou R$100,00 no 138 U.u
Do meu pai levaram o carro e pediram a carteira , mas como ele é brigadiano disse que não tinha, pra não tomar um tiro de graça.
Coisas da vida?

Dieta já disse...

Coisas que não deveriam ser da vida.

Omar disse...

Grande Cristiano,
Longa vida a teu blog.
De preferência sem roubos e assaltos.
Abraço