SEUS DOCUMENTOS, POR FAVOR

Eu lembrei de pegar o passaporte. Mas isso foi uma semana antes de viajar. No final, acabei esquecendo e vim com a carteira de motorista. "Ah, não adianta... Vão te barrar lá do outro lado. Eles só aceitam carteira de identidade", disse o motorista da preferitura de Porto Xavier, que seria nosso guia na Argentina.

A identificação pessoal não era o único problema. Era o menor. De acordo com o secretário do turismo do município, Lino Pauli, também exigiriam um documento do dono da empresa dizendo que os funcionários estavam usando o carro. Algo como o Nelson Sirotski avisando os caras da aduana que eu, o Clóvis e o Mazoni tínhamos autorização para viajar com a Parati. Nunca tinha ouvido falar disso. E tinha mais: a câmera e o tripé que a gente estava levando. Precisávamos ter a nota fiscal deles para ingressar e depois sair da Argentina. E mais o seguro carta verde, que custaria uns cinquenta reais. Esse era o mais fácil de resolver.

A balsa ali na frente, nossa última tarde para fazer matérias na Argentina e aquele monte de empecilhos. Foi o secretário que nos ajudou a tomar as decisões. Ofereceu carona na camionete dele que já tinha paga a carta verde. Ok. Mas e a nota da câmera? E a carteira de motorista? Eu e o Mazoni só tínhamos trazido ela. Pois fomos na cara e na coragem. O secretário era uma pessoa conhecida. Só que isso não adiantava de nada do lado de lá da fronteira, onde os caras parece que querem é complicar a vida de todo mundo. Pelo lado brasileiro, tudo bem, passamos tranquilos. Tínhamos alguns minutos para rezar antes de chegar do outro lado.

Os argentinos vieram com cara feia. Reclamaram do documento, disseram que não era aquele e pediram as notas dos equipamentos. "Não temos, ficaram no Brasil", dissemos. Eles olhavam, dispostos a nos mandar de volta. O secretário implorou: "Amigos, eles estão vindo fazer uma reportagem sobre a seca na Argentina para o Canal Rural. Vamos voltar em poucas horas", falou. "Canal Rural, é?", ele olhou para as carteiras de motorista, tão rejeitadas. "Eu sempre vejo a previsão do tempo no Canal Rural", disse, "está be, vocês podem passar. mas só dessa vez." Uhhhhhhh... Maravilha. Só dessa vez. Não haverá outra, senhor, pensei eu. Seguimos viagem para fazer a matéria. Tudo resolvido. Na volta, ainda fomos premiados com um belíssimo pôr-do-sol antes de chegar em Santa Rosa.