sexta-feira, 19 de junho de 2009

CHEIRO DE TERRA MOLHADA



Há três semanas eu estava fechando a mala para viajar pro Acre. E quando penso na viagem, parece que ela aconteceu há uns dois, três meses. Qual o motivo para esta distância na memória? Vai ver é porque a gente vai todo dia para um lugar diferente e todos eles deixam marcas na nossa cabeça. O blog ajuda a ordenar tudo isso. Ajuda a mostrar quando foi aquilo, que lugar era esse... É um documento este troço. Por isso é tão importante para mim saber que tem gente lendo. E melhor ainda, que tem gente gostando do que lê.



Esta semana, fui até o interior de Maquiné conhecer a história de um agricultor que vive bem afastado dessa correria que afeta nosso pensamento, que desordena nossas ideias. Na propriedade do Seu Pedro, o único som que se ouve é o da natureza. Os passarinhos, a sanga, os cachorros que fazem o alerta de quem chega. E o cheiro de terra molhada... Esse parece entrar em nossos poros.



O motivo que me levou até lá não era nada agradável. O senhor de quase 60 anos, que herdou as terras do pai, pode perder tudo por causa de uma multa. Há dois anos, ele derrubou dois hectares para aumentar a lavoura e botou fogo em uma outra plantação. Resultado: multa de 22 mil reais. Ele teve que vender as vacas para pagar o advogado. E não adiantou. A multa foi reduzida. Mas daqui a 3 anos, o Seu Pedro vai ter que dar as terras para não ser preso. Imagine o desespero dele? Vai para onde? Vai fazer o quê? Saí de lá pensando que no século passado, o crime do Seu Pedro era considerado normal. Os imigrantes vieram, desmataram, ensinaram a desmatar, trouxeram o progresso. E quem vivia lá naquele fim de mundo e achava tudo isso normal foi atropelado pelos anos 2000. Não existe mais fim de mundo. A multa vai chegar em qualquer lugar. O paraíso do Seu Pedro está escondido até a chegada do próximo fiscal.

4 comentários:

Fala garoto, fala garota. disse...

Essa de vender as vacas deu dó...

Amanda Lins disse...

Eu fique com vontade de chorar quando passou essa matéria.

Montezuma disse...

Cristiano, a história desse agricultor se repete, Brasil afora. Quando uma pessoa de bem se desfaz do pouco que tem para consertar uma falha sobre a qual há um leque de culpados, o que pode ocorrer? Que lição se pode tirar disso tudo? Se todos tivessem o zelo que ele tem pela reserva da propriedade, tudo seria diferente.

Dieta já disse...

Tá certo o Montezuma!
Não chora, Brunette...