sexta-feira, 6 de julho de 2007

QUEM É QUEM?




Fulano de tal. É careca, usa óculos e está de gravata azul. É assim que eu identifico as pessoas no bloco de anotações, quando elas ainda estão distantes de mim. Minha memória visual é péssima.
Ontem estava em um seminário no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre, cheio de gente importante. E quase todos de gravata, o que reduz bastante as possibilidades de identificação por esta peça do vestuário. O jeito é apelar para traços da anatomia, calvície, obesidade... O primeiro dos futuros entrevistados eu tinha descrito brevemente ao lado do nome como sendo careca, de óculos e gravata azul. Quando ele deixou o painel de discussões, fiquei com o cinegrafista esperando que ele passasse. Um, dois, três, dezenas de gravatas. Um careca sem óculos. Um de óculos, mas bastante cabeludo. Um careca, de óculos e gordo. Putz, não anotei se era gordo ou magro... Mas a gravata era vermelha. Passa... Até que vem em minha direção o seu Cicrano, sorridente, se desvencilhando de outros jornalistas. Ok, ok, é ele... Tem tudo que estava descrito no bloco, claro. Finalmente! Bom dia, posso falar com o senhor, seu Fulano? Uma entrevistinha rápida... Ele sorri. E aqui me faz gelar. Já passei por isso antes. Olha, diz o senhor, posso até dar a entrevistinha. mas não sou o Fulano. Ele ainda está lá atrás. Sou o Cicrano. Cicrano careca. De óculos e gravata azul. Como outro que estava perto dele. Por que não escrevi se era gordo ou magro?
A falta de talento para identificação é um problema cada vez mais sério. No bar, nunca sei para qual garçom fiz o pedido. No trabalho, cheio de novas colegas loiras, foi complicadíssimo saber quem era quem. Só agora, na segunda semana, começo a tentar reconhecer o pessoal pelo rosto e não mais pela cor dos cabelos. Ontem descobri que a Andressa é a loira magrinha. Uma loira quase de cabelos escuros. Complicado. Até agora pensava que ela era uma outra. Loira, também. São muitas. Agora sei o nome de quase todas. Nem preciso anotar no bloco.

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