domingo, 10 de janeiro de 2010

JOÃO-DE-BARRO: CORNO E ASSASSINO?

Fiquei sabendo hoje que o joão-de-barro mata a fêmea quando descobre que ela o traiu. O assassinato pode ser de duas formas: fechando a casinha de barro e matando-a sufocada ou fazendo uma coleira de barro para que ela fique presa na casa e morra da mesma forma. Chegaram a me dizer que rolam fotos na internet dessas joão-de-barro fêmeas mortas com requintes de crueldade. Procurei no Seu Google e não encontrei nada. Mas fiquei sabendo um monte de coisas sobre o bichinho.

O joão-de-barro é um dos pássaros mais populares do Brasil. O nome científico dele é Furnarius rufus. Tem as penas com cor de terra e a parte superior um pouco mais escura, porte semelhante ao do sabiá, aproximadamente 20 centímetros. As fêmeas dormem sozinhas nos ninhos, quando estão com ovos ou filhotes. Constróem o ninho em formato de forno, um para cada ano, embora possam reformar algum velho. Os ninhos são construídos com barro, esterco e palha, com predominância do primeiro e em local aberto.

O casal trabalha em conjunto e as irregularidades da superfície são corrigidas com reboco. O ninho é contituido de um vestíbulo e pela câmara incubadora. A entrada está sempre voltada em direção contrária à dos ventos predominantes. O macho e a fêmea trabalham em diversos ninhos ao mesmo tempo. Em condições favoráveis demoram 18 dias para terminar o ninho e depois de 3 dias o casal começa a preparar e forrar a câmara incubadora.

Alimentam-se de insetos e suas larvas, aranhas. Podem ocasionalmente ingerir sementes. Vivem no campo e são abundantes nas fazendas da região sul, parques e cidades onde não se importa com a presença humana. Ocorre nas regiões Sul, Sudeste, leste e nordeste da Bahia e até o sul do Piauí.

Agora a parte que me deixou mais impressionado. Diz a crença popular que o joão-de-barro empareda dentro do ninho a fêmea que o tenha traído. Pessoas adultas, mesmo com relativa experiência de vida, afirmam isto com a maior convicção. Esta estória imputa ao joão-de-barro duas pechas. Primeiro, a de que suas esposas são capazes de trair. Segundo, a de que os maridos são capazes de cometer assassinatos passionais.

Muitos sites dizem que tudo não passa de mito. E este mito pode ter surgido de dois fatos. O primeiro é de que alguns ninhos abandonados do joão-de-barro são aproveitados por abelhas indígenas como a uruçú-mirim, para fazerem sua colméia. As abelhas fecham a entrada do ninho com uma cera, dando a impressão de ter sido fechado pela ave. Mas olhando-se mais atentamente nota-se o engano.



Outra possível explicação é a seguinte. Hudson, em uma obra de 1920, cita um interessante episódio ocorrido em Buenos Aires. Uma das aves (não foi possível saber se o macho ou a fêmea, pelo fato de serem muito parecidos) foi acidentalmente pega em uma ratoeira que lhe quebrou os pés. Após liberada por quem havia armado a ratoeira, voou para o ninho onde entrou e não foi mais vista. Morreu, certamente. O outro membro do casal permaneceu por ali mais dois dias, chamando insistentemente pelo parceiro. Em seguida desapareceu retornando três dias após com um novo parceiro e imediatamente começaram a carregar barro para o ninho, fechando a sua entrada. Depois construíram outro ninho sobre o primeiro e ali procriaram. Hudson viu este fato como mais uma "qualidade" do joão-de-barro, por ter tido o cuidado de sepultar sua parceira.
 
Agora, as fotos da tal fêmea aprisionada, não consegui ver. Meus amigos dizem que já apagaram. E eu não encontrei em lugar nenhum da internet. Prefiro acreditar que é tudo lenda mesmo. Rotular o João de corno e assassino é demais!

Um comentário:

LU K. disse...

coitado do joão de barro! prefiro acreditar que isso tudo é uma lenda!